Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Fundadores - Gabriel Toti


Gabriel Toti - Cadeira 34

Patrono: Dom Eduardo Duarte da Silva

Posição: Fundador
Sucedido por: Antonio de Oliveira Mello


Biografia


Formação
Gabriel Toti nasceu em Uberaba em 1889, aqui falecendo em 1967, sendo filho do imigrante italiano Pascoal Toti, um dos pioneiros da industrialização de Uberaba com fábricas de refrigerantes, macarrão e cerâmica, esta situada onde até 2002 foi estabelecida a cerâmica Misson & Miranzi, esquina da praça Estêvão Pucci e rua Jaime Bilharinho, prédio adquirido pelo Sesc.
Foi aluno de primeiras letras da professora Emelina des Genettes, filha de Henrique Raimundo des Genettes, fundador, em 1874, da imprensa em Uberaba, bem como, em 1859, do segundo estabelecimento de ensino secundário da cidade, isto depois de já ter colaborado na fundação do primeiro pelo engenheiro Fernando Vaz de Melo, em 1854. Posteriormente, Gabriel estudou no colégio Marista Diocesano e em São Paulo e na Itália, país onde permaneceu por três anos cursando arquitetura.

Atividades Empresariais
De volta à cidade, dedicou-se a atividades industriais e comerciais nos estabelecimentos de seu pai, dos quais, após o falecimento deste, herdou parte, que, em 1915, segundo Mônica Resende ("Gabriel Toti", jornal Cidade Hoje, Uberaba, 22 abril 1989), foi acrescida de mais uma fábrica de cerveja e refrigerante com a denominação de cerveja Mineira e guaraná Caxangá. Simultaneamente, dedicou-se por toda a vida à literatura, jornalismo, arquitetura, música e história, colaborando intensamente na imprensa, constando também ter dirigido por alguns anos a Gazeta de Uberaba, além de ser, na infância e na juventude, entusiasta, impulsionador e participante do futebol na cidade, do mesmo modo como, na maturidade, apoiou e/ou compartilhou da fundação de inúmeras entidades de classe, clubes sociais e instituições culturais. Entre elas, o Jóquei Clube de Uberaba, do qual foi, informou José Mendonça (História de Uberaba, p.l61), primeiro secretário na diretoria presidida por Alceu de Miranda eleita em março de 1918, quando o clube, anteriormente denominado Sport Clube e fundado em 01 de janeiro de 1901, passou a chamar-se Jóquei Clube de Uberaba.
Foi um dos fundadores, em 16 de dezembro de 1923, da Associação Comercial e Industrial de Uberaba. Pertenceu à Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ocupando a cadeira 34, que tem como patrono o primeiro bispo de Uberaba, dom Eduardo Duarte Silva. Foi, ainda, sócio correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e São Paulo.

Futebol
Desde o primeiro momento de sua introdução em Uberaba e no decorrer de pelo menos vinte anos seguintes, a atuação de Gabriel Toti no futebol de Uberaba, como incentivador, esportista, fundador de clubes e dirigente de associações esportivas foi intensa e fundamental para o desenvolvimenio desse esporte em seus primeiros anos de prática na cidade.
O futebol surgiu em Uberaba, segundo Hildebrando Pontes (História do Futebol em Uberaba, p. 34), em setembro de 1903, no então ginásio Diocesano, quando para aqui vieram diretamente da França os irmãos maristas Luís e Mateus para dirigir o estabelecimento e "de lá trouxeram a primeira esfera de borracha, ou mais propriamente, câmara de ar, de cor preta, medindo cerca de 22 centímetros de diâmetro", destituída, pois, do invólucro ou capão.
Gabriel Toti, então aluno do ginásio, "tomando-a com alegria [....] mandou-a incontinente para as oficinas da selaria do sr Estêvão Pucci" para ser encapada e servir, como serviu, para o primeiro "bate-bola" havido em Uberaba, no Diocesano. Posteriormente, mais duas bolas vieram para o ginásio. Em 1905, Gabriel adquiriu em São Paulo outras ''duas bolas com as respectivas agulhas e bomba e um exemplar do Guia do Futebol ".
Em 1906, sempre segundo Hildebrando Pontes (op. cit., p. 36), Gabriel e outros jovens, entre os quais, Quirino Pucci, Apulcro Brasil e Santiago Sabino de Freitas, organizaram o primeiro time de futebol de Uberaba denominado simplesmente de Clube de Futebol, que teve curta duração por não ter com quem jogar, sendo que a primeira associação esportiva da cidade, "com organização mais ou menos regular", foi o Mojiana Futebol Clube, instituído em junho de 1910 por Adelino Simões, ferroviário que viera de Campinas em 1907, e do qual participaram apenas empregados da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro.
Em junho de 1912, Gabriel Toti e um grupo de jovens comerciários em sua maioria fundaram o Comercial Futebol Clube, do qual Gabriel foi o primeiro presidente.
Em julho desse mesmo ano, Gabriel, juntamente com Fernando von Krüger, que em junho de 1917 estaria à frente da iniciativa para a fundação do Uberaba Sport Clube, e Miguel Pucci Sobrinho, organizaram outra associação esportiva, denominada Floriano Peixoto Futebol Clube em homenagem ao marechal, como era costume à época.
Gabriel ainda fez parte, em 1915, do Botafogo Futebol Clube, originário de cisão havida no Rio Branco Futebol Clube, existente desde abril de 1912, e participou também, em fevereiro de 1918, da criação do Palestra Itália de Uberaba , do qual Santos Guido foi primeiro presidente; Gabriel, vice-presidente; Artur Decina, 1° secretário; e Salvador Bruno, 2° tesoureiro. Na segunda diretoria, escolhida um ano depois, Gabriel foi eleito presidente.
Segundo Hildebrando (op.cit., p. 101), "à parte os dois atuais grandes clubes: Uberaba Sport Clube e Associação Atlética do Triângulo, foi o Palestra Itália de Uberaba, o mais famoso de todos, conseguindo, logo nos seus dois primeiros jogos, derrotar o primeiro quadro do Uberaba Sport Clube. Esses jogos causaram verdadeiro assombro nesta cidade onde o U.S.C., já então tido como campeão do Triângulo, contava torcedora sua a maioria da população", do que resultou cisão entre sua torcida, de conformados ou não com a derrota, grupos que passaram a "se hostilizar por meio de comentários, discussões acaloradas", daí decorrendo o afastamento de muitos dos elementos do clube.
Em 1921, Hildebrando registrou (op.cit., p. 119) a participação de Toti na comissão de sindicância da diretoria da Associação Atlética do Triângulo, então presidida por Artur Machado Júnior, tendo como membros da diretoria, entre outros, Alberto Prata, Armei de Miranda, Fernando Terra, Luís Guaritá, Raimundo Soares de Azevedo Júnior, Donato Cicci, Aristides Cunha Campos, Geraldino Rodrigues da Cunha, Domingos Paraíso, Tancredo Martins, João Henrique Sampaio Vieira da Silva e Teófilo Riccioppo, associação que, segundo Hildebrando, teve sua origem no Red And White Association (op.cit., p. 118) e que, por isso, era grande rival do Uberaba Sport, havendo então, entre os elementos de ambos (Associação e U.S.C), "absoluta separação pela divergência de opiniões, formando partidos em torno dos quais a população, também separada em dois campos, agrupa-se, cantando cada um o seu hino triunfal" (op.cit., p. 119).
| Por sua vez, o U.S.C, teve, desde 25 de dezembro de 1920, entre os membros de sua diretoria, Cantidiano de Almeida (presidente), Sebastião Brás, Felício Batista de Paiva, Guiomar Rodrigues da Cunha, Francisco Riccioppo, Joãoi Alves Moreira Lara, Quirino Pucci, Luís Soares Bilharinho e Joaquim Machado Borges, sendo Hildebrando Pontes um de seus sócios.

Atividades Artísticas
Na área artística, Gabriel Toti dedicou-se à literatura, arquitetura e música.
Na arquitetura, segundo Mônica Resende, "possuindo também grande facilidade para desenhar e fazer projetos, deixou algumas obras com sua assinatura, entre elas sua antiga residência na rua Artur Machado". Na literatura, ainda segundo a mesma autora, "só em sonetos sobre as rosas escreveu 200, dedicados à sua esposa", produção, contudo, ao que parece, totalmente inédita, a não ser, possivelmente, uma ou outra peça publicada esparsamente na imprensa, demandando pesquisa e levantamento, visto sua singularidade tanto pela quantidade quanto pela exclusividade temática, sendo que os originais inéditos deterioram-se pela ação do tempo, tornando-se, ao que tudo indica, irrecuperáveis em consequência da inércia e da incúria responsáveis por eles.
Nessa área, Gabriel Toti foi também autor de poemas de talhe modernista, cujo número é desconhecido e cuja acessibilidade demanda pesquisa em jornais e periódicos da época. Alguns deles, contudo, foram publicados em Poetas do Triângulo Mineiro - Antologia, editada em 1976 pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro com os recursos da Bolsa de Publicações do Município de Uberaba.
Entre eles, sua mais divulgada produção no gênero, o poema de fundo nostálgico "Uberaba de Uma Vez", escrito em 1939. Da mesma natureza é o poema "Alto dos Estados Unidos", também incluído na referida antologia.
Consta ainda que foi autor de contos, que estão tendo o mesmo destino dos sonetos dedicados às rosas, ou seja, em originais inacessíveis ou já deteriorados. Talvez alguns tenham sido publicados aleatoriamente na imprensa.
Como compositor, além de possivelmente outras obras, Toti foi autor da partitura do Hino de Uberaba, com letra do jornalista Ari de Oliveira (editor do Jornal de Uberaba, o quarto com essa denominação, do Livro Azul do Triângulo e da revista Zebu nas décadas de 1940 e 1950), cuja primeira audição deu-se, segundo Mônica Resende, em 22 de fevereiro de 1936, sendo oficializado até 1937, ano em que, ainda conforme a autora, os hinos foram abolidos pelo Estado Novo, sendo, no entanto, reoficializado em 1948, com a redemocratização do país, novamente mergulhado em regime ditatorial a partir de abril de 1964.
A partitura e letra desse hino foram publicadas, entre outros lugares, no Álbum de Uberaba, editado por Toti em 1956.

Obras Históricas
Uma das áreas em que mais se distinguiu a operosidade intelectual de Gabriel Toti foi na pesquisa e elaboração de artigos e ensaios sobre a história de Uberaba, contando-se entre seus principais e mais citados trabalhos, também de difícil acesso: "Homens Que Ajudaram Uberaba a Crescer", "A Música em Uberaba", "A Medicina em Uberaba", este divulgado em série, segundo José Bilharinho (História da Medicina em Uberaba, vol. I, p. 171), em julho de 1954 no jornal O Triângulo, e "Histórico das Igrejas de Uberaba", quase certamente também veiculado na imprensa, demandando republicação em livro, a exemplo de outro de seus ensaios sobre as "Ruas de Uberaba", saído em O Triângulo e reproduzido em capítulo especial por José Mendonça em seu livro.
Afora eles, diversos outros artigos e ensaios de sua lavra compuseram as duas edições do Álbum de Uberaba, que Toti organizou e editou, respectivamente, por ocasião do centenário, em 1936, da elevação do então arraial à vila (município) e na oportunidade dos cem anos, em 1956, de elevação da vila à categoria de cidade. Dentre tais ensaios, salientaram-se "Uberaba - Esboço Histórico" e "A Imprensa em Uberaba", dados à luz em ambas as edições, contendo o último a relação cronológica, respectivamente, de 194 (cento e noventa e quatro) jornais e periódicos editados na cidade até novembro de 1933, e 234 (duzentos e trinta e quatro) até outubro de 1953, em levantamento exaustivo e minucioso, efetuado em continuação à igual pesquisa elaborada por Hildebrando Pontes desde o início do século XX e atualizada até 1933 para sua História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central, onde registrou, às p. 401/405, nada menos de 191 (cento e noventa e um) jornais e periódicos aqui editados até aquele ano.
Outro trabalho notável de Toti, pelo estilo e carga evocativa, inserido na segunda edição do Álbum, foi "Como Conheci Uberaba", republicado com destaque e várias ilustrações na revista Convergência, ano VI, n° 07, de 1976, editada pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Além de sua laboriosa atividade de pesquisa e divulgação da história local, consta que Toti possuiu grande coleção de jornais e de outras publicações locais, também desaparecida.

Igreja de Santa Rita
A par seu trabalho de pesquisa histórica, elaboração das informações colhidas, atividade artística e edições do Álbum de Uberaba, Gabriel Toti reivindicou e conseguiu o tombamento da igreja de Santa Rita, conforme atesta correspondência de 26 de maio de 1939, guardada em seu arquivo e reproduzida fac-similarmente pela jornalista Mônica Resende, em que o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sediado no Rio de Janeiro, lhe informou que seu Conselho Consultivo, em sessão extraordinária realizada no dia 19 daquele mês, deferiu seu requerimento "no sentido de ser inscrita a Igreja de Santa Rita, dessa cidade, num dos Livros do Tombo a que se refere o decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937".

BILHARINHO, Guido. Personalidades Uberabenses. 1.ed. Uberaba: CNEC Edigraf, 2014


Voltar


Projeto Gráfico e Programação Web, Pesquisa, Organização e Manutenção: Fernanda Bilharinho de Mendonça
©Copyright 2010/2022 - Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Todos os direitos reservados.